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Arquitetos: Samira Rathod Design Atelier
- Área: 1 2
- Ano: 2019
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Fotografias:Niveditaa Gupta
Descrição enviada pela equipe de projeto. Quase todos nós fomos à escola durante a nossa infância, e talvez as lembranças mais vívidas que carregamos conosco, não são muito espetaculares ou relativas à grandes eventos, mas ironicamente, as coisas mais banais que vivemos todos os dias nas salas de aula. Lembramos de nos perder pelos corredores da escola, de vagar sob o céu azul, das cores, das árvores, das pessoas e de nossas brincadeiras.
Este é o ponto de partida para o nosso projeto da Escola dos Arcos Dançantes em Bhadran, um pequeno vilarejo do estado de Gujarat, no extremo oeste da Índia. A escola é o lugar onde as crianças passam a maior parte do tempo na sua mais tenra idade, onde fazem seus primeiros amigos, onde constroem as suas primeiras lembranças. Memórias são como uma colcha de retalhos, feitas de pequenos eventos, encontros, espaços, brincadeiras.
Para nós, o espaço de uma escola deve ser concebido para instigar a curiosidade das crianças e por isso, deve contemplar elementos de seu próprio universo. A partir disso, procuramos compreender como uma criança imagina o espaço de uma escola, estudando seus rabiscos e transformando-os poeticamente em um edifício de linhas tortas. A escola dos arcos dançantes é, em última instância, um experimento que procura dar forma ao espaço idílico sonhado por uma criança. A imprecisão de um rabisco pode parecer até certo ponto, banal, mas a liberdade como uma criança se expressa, através de suas linhas curvas e tortas, a única forma que ela conhece. O projeto da Escola dos Arcos Dançantes é uma homenagem à esta liberdade.
A assimetria de seus arcos é uma lembrança de que nem sempre, um projeto precisa ser desenhado com linhas paralelas e perpendiculares. A irregularidade que salta aos olhos à primeira vista é uma fonte de questionamento e curiosidade para as crianças. Sua arquitetura, assim como seus espaços, ecoa o hábito de pensar criticamente, de questionar aquilo que se vê e romper com as convenções.
Implantado na zona rural de Bhadran, em meio as plantações de tabaco que se espalham pela paisagem de Gujarat, o projeto da escola se desenvolveu organicamente, articulando seus espaços por entre as árvores; construindo salas, aberturas, projeções, nichos, pontes e mezaninos - incorporando uma atmosfera labiríntica, como a própria cidade de Bhadran. O projeto da escola é modular e cada módulo contém um par de salas de aula e um corredor com seus arcos dançantes.
Todos os módulos foram projetados a partir de um mesmo sistema de cofragem utilizando fôrmas de aço que poderiam ser utilizadas de diversas formas construindo distintos sub-módulos. A reutilização das fôrmas fez com que o custo da obra diminuísse drasticamente, utilizando menos recursos e minimizando o desperdício. As conchas da cobertura foram construídas em um sanduíche de tijolo e uma fina camada de concreto em ambos os lados. Os espaços das salas de aula foram concebidos com grandes vigas que dão suporte a uma cobertura em abóbada, que em determinados momentos é alçada para permitir a entrada de luz natural e potencializar a ventilação cruzada no interior do edifício. A impermeabilização da cobertura se dá graças a presença de uma espessa camada de tijolos, formando uma divertida paisagem de pequenas montanhas que reproduz a típica geografia de Bhadran.
Formalmente, permanecemos fiéis à um único material, utilizando tijolos para levantar paredes e fachadas, construir pisos e dar forma ao telhado. Escolhemos trabalhar com o tijolo porque poderíamos produzi-los com materiais locais e queimá-los em um forno muito perto da obra. Além disso, este tipo de sistema construtivo é conhecido por todos os trabalhadores locais, que nos ajudaram com suas próprias mãos a levantar o edifício da escola, criando maior profundidade e conexão entre a comunidade local e o novo edifício da escola.
Um outro elemento importante neste projeto é a luz. Para nós, a luz é mais do que um elemento natural, ela é um material de construção tangível. Costumamos incorporar o uso da luz como uma agulha que serve para costurar momentos e experiências através do espaço. O contraste entre a superfície da fachada e a sombra no interior dos corredores, o brilho suave da luz que entra pela cobertura e reflete na superfície vermelha dos tijolos, tudo isso contribui para a experiência do espaço da escola, instigando a curiosidade das crianças. Um edifício; uma escola; onde o jogo de esconde-esconde parece nunca ter fim.